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19.8.08

Primeira Página 2008


CONCERTO: Rocky Marsiano
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo
SOUNDCHECK: Rocky Marsiano
fotografia de Susana Paiva


MALA VOADORA: Excertos do espectáculo "O decisivo na política ..."
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


DISCURSO DIRECTO: Entrevista a Jorge Andrade e José Capela (Mala Voadora)-II
Claudia Galhós

Como se olha para uma peça que tem três momentos diferentes de apresentação – primeiro em Serralves, depois do Citemor e falta ainda no O Negócio/ZDB – que é diferente de uma digressão de uma mesma peça, mas antes representa uma obra que não se chega a estrear-se, mas antes existe em constante elaboração, redefinição, reformulação?
É este o caso de «O decisivo na política não é o pensamento individual, mas sim a arte de pensar a cabeça dos outros (disse Brecht)». E esta segunda parte da conversa, é mais um exercício de memória sobre a primeira apresentação ao público (em Serralves) e algumas questões que atravessaram a residência artística em Montemor-o-Velho, que deu origem à versão apresentada na Sala B, do Citemor.
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EM ESPECTÁCULO: "O decisivo na política..." pela Mala Voadora
fotografia de Susana Paiva



DISCURSO DIRECTO: Entrevista a Jorge Andrade e José Capela (Mala Voadora)-I

Claudia Galhós

«O decisivo na política não é o pensamento individual, mas sim a arte de pensar a cabeça dos outros (disse Brecht)». Este é o extenso título da nova peça da Mala Voadora, que sugere, desde logo, o programa de intenções do espectáculo.
A política é o pretexto para uma viagem pelo mundo do espectáculo e da manipulação, que traduz precisamente essa ideia de uma certa forma de arte «de pensar a cabeça dos outros». A peça teve uma primeira versão em Serralves (Porto), em Julho, no âmbito do programa Mugatxoan. No Citemor (Montemor-o-Velho), Jorge Andrade (encenador e actor) e José Capela (cenógrafo) – a estrutura humana central da Mala Voadora – estiveram uma semana em residência para repensar a peça, que agora se apresenta numa segunda versão.
Em Setembro, o espaço O Negócio, em Lisboa (da Galeria Zé dos Bois), irá apresentar uma terceira, que resultará de uma nova residência, nessa ocasião na capital.
Este é o pretexto para uma conversa com os dois, sobre o jogo dos significados que o teatro contemporâneo compõe e abandona a cada nova visitação de uma peça que já existe mas não se fixa num objecto cristalizado. Nesta primeira parte da conversa cruzamos o passado da Mala Voadora com a peça em desenvolvimento.
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CHECK-IN: Mala Voadora
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo

MIGUEL PEREIRA: Excertos do espectáculo "Doo"
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


FRANCISCO CAMACHO - Entrevista in progress

Claudia Galhós

Retrato em construção do coreógrafo português Francisco Camacho, numa série de conversas, que decorrem no contexto do Festival Citemor 2008, com o qual colabora há muitos anos, como criador e artista programado e também, como acontece nas últimas edições, como o programador do ciclo de cinema. [ler mais …]


DISCURSO DIRECTO: Entrevista a Ignasi Duarte

Claudia Galhós

Ignasi Duarte esteve pela primeira vez no Citemor, em 2005, como dramaturgo de Roger Bernat, e regressou nesta edição para filmar uma invulgar longa metragem que se chama «Montemor» e que tem por protagonista a vila, captada a partir das pessoas que a habitam e sem que a vila apareça. «Um grande fora de campo», muito pessoal e sentimental – assim esperamos ver «Montemor». [ler mais …]

EM ESPECTÁCULO: "Doo" de Miguel Pereira
fotografia de Susana Paiva


EM ESPECTÁCULO: "10.000 años" de Carlos Fernandez
fotografia de Susana Paiva


CHECK-IN: Miguel Pereira
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


DISCURSO DIRECTO: Entrevista a Miguel Pereira
Claudia Galhós

Em «Doo», Miguel Pereira retoma a dimensão autobiográfica, aqui de forma assumida. Surge também novamente a lógica de espelho. Ele, como intérprete, frente a um outro, neste caso Bernardo Fernando (PAK), que conheceu em Moçambique, país de que Miguel é natural e onde esta peça se iniciou. Este «outro» representa uma duplicidade, a possibilidade de um outro Miguel, mas é também alguém diferente de Miguel. Os jogos de espelho são uma constante na obra do coreógrafo Miguel Pereira, mas desde a peça que criou com Karima Mansour (Egipto), «Miguel meets Karima», em 2007, que o espelho se partiu. [ler mais …]


DISCURSO DIRECTO: Entrevista a David Marques

Claudia Galhós

Um corpo à procura, onde a palavra também ganha um corpo, em diálogo com o outro, o de carne e sangue do intérprete. «Motor de Busca» apresenta um novo criador em início de percurso artístico. David Marques fala de um corpo à procura de quem é, e nesse questionar desenha caminhos ainda erráticos, por onde se lança e se perde, construindo um mundo de sentidos múltiplos que constantemente se destroem. [ler mais …]


DISCURSO DIRECTO: Entrevista a Carlos Fernandez
Claudia Galhós

O desejo é, aparentemente, muito simples: contar histórias. Que o espectador se deixe levar por essas narrativas que começam com uma ideia simples – que em «10.000 años» é a de um homem numa casa que está prestes a ser demolida –, mergulhada na voragem da vida contemporânea e que se contamina de outras histórias, mais antigas, como esse outro olhar que propõe sobre a cidade de Jericó. Carlos Fernandez apresenta-se pela primeira vez em Portugal, com uma estreia absoluta, criada em residência artística no Castelo de Montemor. [ler mais …]


DERIVAÇÕES: Uma pequena história, Carlos Marquerie
Pablo Caruana

Nos encontramos en las calles de Montemor con el director español Carlos Marquerie, relajado, este año no toca trabajar y si poder disfrutar de charlas y teatro. Recorrer los espacios y los sitios donde se crearon “Que me abreve de besos tu boca” (2005) y “El temblor de la carne”(2006), de repensar y disfrutar. Así lo encontramos y charlando nos cuenta una pequeña historia, memoria personal y teatral. Haciendo un poco de trampas, quitando las preguntas y uniendo, tejemos una pequeña historia: [ler mais …]


CRÓNICA: Deslizando pelas pistas de gelo

Pablo Caruana

Hace mucho que no veía un comienzo teatral tan sugerente, con una potencia que iba impregnándose no sólo en su momento escénico sino también a posteriori, durante todo el espectáculo.
Una pequeña pista de hielo de juguete que no sabemos de dónde viene, proyectada en el frontal del espacio, con reminiscencias de juego de principios de siglo en el que vemos a unas pequeñas figuras deslizarse, cada una siguiendo un camino propio, sin tocarse, pero formando cierta coreografía alegórica de la vida. Frío, deslizamiento y distancia.
La imagen es lejana, de viento nórdico, no de tierra de chopos… No sé porqué no podía parar de pensar en “El espejo” de Tarkovski. Pero a parte de una metáfora que atraviesa todo el espectáculo, este comienzo funciona también como una declaración de parámetros y como propuesta. [ler mais …]

DAVID MARQUES: Excertos do espectáculo "Motor de Busca"
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo

CHECK-IN: David Marques
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo

IMAGENS NO SINGULAR: David Marques
fotografia de Susana Paiva


15.8.09

> VIDEOS 2009



EM ESPECTÁCULO | Separados Frutos
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo



Separados Frutos, com Nuno Rebelo, Vera Mantero, Ulrich Mitzlaff e Manuel Guimarães, no Teatro Esther de Carvalho. Excerto do concerto de encerramento do Citemor -
31º Festival de Montemor-o-Velho.


DISCURSO DIRECTO | Separados Frutos
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo
entrevista de Claudia Galhós



Excerto da entrevista de Claudia Galhós a Separados Frutos com Nuno Rebelo, Vera Mantero, Ulrich Mitzlaff e Manuel Guimarães.
Citemor - 31º Festival de Montemor-o-Velho.


EM ESPECTÁCULO | Vera Mota
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo



"While my guitar gently weeps" performance de Vera Mota, no Teatro Esther de Carvalho. Encerramento do
Citemor - 31º Festival de Montemor-o-Velho.


EM ESPECTÁCULO | Kotomi Nishiwaki
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo



Excerto do espectáculo Off, Off, ON!! de Kotomi Nishiwaki, na Sala B.
Citemor - 31º Festival de Montemor-o-Velho.


EM ESPECTÁCULO | Mala Voadora (REAL/SHOW)
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo



Espectáculo "Real Show", pela Mala Voadora no Hangar dos Motas.
Citemor - 31º Festival de Montemor-o-Velho.


DISCURSO DIRECTO | John Romão e Mickael de Oliveira
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo



Excerto da entrevista a John Romão e Mickael de Oliveira a propósito do espectáculo "Velocidade Máxima" pelo Colectivo 84, na Sala B do
Citemor - 31º Festival de Montemor-o-Velho.


EM ESPECTÁCULO | Mala Voadora (CHINOISERIE)
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo



Espectáculo "Chinoiserie", pela Mala Voadora no Hangar dos Motas. Citemor - 31º Festival de Montemor-o-Velho.


EM ENSAIO | Mala Voadora
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


Espectáculo "Chinoiserie", pela Mala Voadora no Hangar dos Motas. Citemor - 31º Festival de Montemor-o-Velho.


EM ESPECTÁCULO | Colectivo 84
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


Excertos do Espectáculo "Velocidade Máxima" de John Romão. SALA B,
Citemor - 31º Festival de Montemor-o-Velho.

DISCURSO DIRECTO | Francisco Camacho e Vera Mota
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


Excertos da entrevista de Claudia Galhós a Francisco Camacho e Vera Mota. Hangar dos Motas,
Citemor - 31º Festival de Montemor-o-Velho.

EM ESPECTÁCULO | im-
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo



Resumo do espectáculo "im-" de Francisco Camacho e Vera Mota. Interpretação de Francisco Camacho, Vera Mota, David Marques e Patricia Milheiro. Hangar dos Motas,
Citemor - 31º Festival de Montemor-o-Velho.

EM ENSAIO | Colectivo 84
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo



Ensaios do espectáculo "Velocidade Máxima" pelo Colectivo 84, com encenação de John Romão e texto de Mickael de Oliveira. Na Sala B do Citemor - 31º Festival de Montemor-o-Velho.

DISCURSO DIRECTO | Diogo Dória
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo



Excerto da entrevista de Claudia Galhós a Diogo Dória. Citemor - 31º Festival de Montemor-o-Velho.

EM ESPECTÁCULO | Nilo Gallego
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo



Resumo do espectáculo "Pigmeus do Mondego" de Nilo Gallego com Ana Cortés, Noemi Fidalgo, Raul Alaejos, Katsunori Nishimura, Markus Breuss, Varis Fuertes, José Pedro Sousa. Produção Citemor. Espectáculo apresentado no Citemor - 31º Festival de Montemor-o-Velho.

DISCURSO DIRECTO | José Maçãs de Carvalho
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo



Excerto da Entrevista de Pablo Caruana Húder a José Maças de Carvalho. Galeria Municipal da Praça da República. Citemor - 31º Festival de Montemor-o-Velho.

EM ENSAIO | Francisco Camacho e Vera Mota
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo



Imagens do ensaio do espectáculo "im-" do Francisco Camacho e Vera Mota. Citemor - 31º Festival de Montemor-o-Velho.

EM ESPECTÁCULO | Diogo Dória
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo



Imagens do espectáculo de Diogo Doria "Todos os casados sao mal casados", Citemor - 31º Festival de Montemor-o-Velho.

MAKING OF | Pigmeus do Mondego
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo




DISCURSO DIRECTO | Angélica Liddell
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo



Entrevista de Claudia Galhós a Angélica Liddell acerca do espectáculo "Te haré invencible con mi derrota".


MAKING OF | Pigmeus do Mondego #4
video de Raul Alaejos


Quarto trabalho de Raúl Alaejos sobre a preparação para o espectáculo de Nilo Gallego "Pigmeus do Mondego", filmado em Abril de 2009


EM ENSAIO | Pigmeus do Mondego
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo




EM ESPECTÁCULO | Angélica Liddell
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo



Excertos do espectáculo de Angélica Liddell "Te haré invencible con mi derrota" (24 a 26 de Julho).


MAKING OF | Pigmeus do Mondego #3
video de Raúl Alaejos


Terceiro trabalho de Raúl Alaejos sobre os ensaios do espectáculo de Nilo Gallego "Pigmeus do Mondego".

INAUGURAÇÃO | INSTALAÇÃO VIDEO 2001 - 2007, #1
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo



Trabalho sobre a inauguração da Instalação VIDEO 2001-2007, #1 de José Maçãs de Carvalho, no âmbito da programação da 31ª edição do Citemor - Festival de Montemor-o-Velho.


EM ENSAIO | Pigmeus do Mondego
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo



Workshop de Gaita de Foles com Noemi Fidalgo, no Teatro Esther de Carvalho com alunos da Filarmónica 25 de Setembro. Ensaios de preparação para o espectáculo de Nilo Gallego "Pigmeus do Mondego"


INSTALAÇÃO | VIDEO 2001 - 2007, #1
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo



Trabalho sobre a instalação de José Maçãs de Carvalho "Video 2001-2007, #1" que se encontra na Galeria Municipal de Montemor-o-Velho, no âmbito da programação da 31ª edição do Citemor.


MAKING OF | "Pigmeus do Mondego" #2
video de Raul Alaejos



Segundo Trabalho de Raúl Alaejos sobre os ensaios do espectáculo de Nilo Gallego "Pigmeus do Mondego".


MAKING OF | "Pigmeus do Mondego" #1
video de Raul Alaejos



Imagem e montagem de Raúl Alaejos sobre os ensaios do espectáculo de Nilo Gallego "Pigmeus do Mondego".


EXPOSIÇÃO | VIDEO 2001 - 2007, #1 | JOSÉ MAÇÃS DE CARVALHO
"Never tell a secret" de José Maçãs de Carvalho

14.8.08

> VIDEO 2008


CHECK-IN: Angélica Liddell
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


DISCURSO DIRECTO: Angélica Liddell
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


ANGÉLICA LIDDELL: Excertos do espectáculo "Boxeo para células y planetas"
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


CHECK-IN: Artistas Unidos / Det Åpne Teater
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


DISCURSO DIRECTO: Franzisca Aarflot
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


ARTISTAS UNIDOS / DET ÅPNE TEATER: Excertos do espectáculo "Babel"
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


CHECK-IN: Lengua Blanca
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


MONTAGEM: Lengua Blanca
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


LENGUA BLANCA: Excertos do espectáculo "En las pistas del hielo"
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


CHECK-IN: David Marques
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


ENSAIO: David Marques
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


DAVID MARQUES: Excertos do espectáculo "Motor de Busca"
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


CHECK-IN: Carlos Fernandez
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


CARLOS FERNANDEZ: momentos de preparação, "10.000 años"
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


ENSAIO 1: Carlos Fernández
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


ENSAIO 2: Carlos Fernández
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


CHECK-IN: Miguel Pereira
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


DISCURSO DIRECTO: Miguel Pereira
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


MIGUEL PEREIRA: excertos do espectáculo "Doo"
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


CHECK-IN: Mala Voadora
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


DISCURSO DIRECTO: Mala Voadora
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


ENSAIOS: Mala Voadora
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


MALA VOADORA: Excertos do espectáculo "O decisivo na polítcia não é o pensamento individual, mas sim a arte de pensar a cabeça dos outros."
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


CHECK-OUT: Ignasi Duarte
vídeo de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


CHECK-IN: Rocky Marsiano + DJ Ride
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


CONCERTO Rocky Marsiano: Teatro Esther de Carvalho
video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo


SPOT TV
Edição Maurício Martins, grafismo Nuno Fonseca

7.9.10

VÍDEO 2010

imagem e edição de HUGO BARBOSA e PAMELA GALLO


EM RESIDÊNCIA | Olga Mesa





ESPECTÁCULO | Tiago Pereira





ESPECTÁCULO | Diabo na Cruz





ESPECTÁCULO |Expulsadas del paraíso | Elena Córdoba





ESPECTÁCULO |Todo lo que se mueve está vivo | Elena Córdoba





DISCURSO DIRECTO | Elena Córdoba





DISCURSO DIRECTO | Tiago Pereira





EM ENSAIO | Expulsadas del paraíso | Elena Córdoba





EM ENSAIO | Todo lo que se mueve está vivo | Elena Córdoba





EM RESIDÊNCIA | Todo lo que se mueve está vivo e Expulsadas del paraíso | Elena Córdoba





ESPECTÁCULO | Nova criação 2010 | Francisco Camacho





DISCURSO DIRECTO | Fernando Renjifo





ESPECTÁCULO | Tiempos como Espácios | Fernando Renjifo |





ESPECTÁCULO | Impromptus | Fernando Renjifo





ESPECTÁCULO | El Lugar y la Palabra. Conversación Interferida. Beirut | Fernando Renjifo





EM ENSAIO | Nova Criação 2010 | Francisco Camacho





EM ENSAIO | El Exilio y el Reino | Fernando Renjifo 





CHECK IN | Francisco Camacho





ESPECTÁCULO | La Mujer de la Lagrima | Elena Córdoba





MONTAGEM E ENSAIO | Elena Córdoba





DISCURSO DIRECTO | Colectivo 84





ESPECTÁCULO | Colectivo 84





EM ENSAIO | Morro como País | Colectivo 84





DISCURSO DIRECTO | Mala Voadora





EM MONTAGEM | Morro como País | Colectivo 84





ESPECTÁCULO | Single | Mala Voadora





EM ENSAIO | Single | Mala Voadora





EM MONTAGEM | Single | Mala Voadora





DISCURSO DIRECTO | Susana Vidal





ESPECTÁCULO | Simulacros (2) | Susana Vidal





ESPECTÁCULO | Simulacros de Susana Vidal






EM ENSAIO | Simulacros de Susana Vidal






EM MONTAGEM | Simulacros de Susana Vidal






ESPECTÁCULO | Norberto Lobo





CHECKSOUND | Norberto Lobo




13.8.08

DISCURSO DIRECTO: Entrevista a Mala Voadora I


fotografia de Susana Paiva

«O decisivo na política não é o pensamento individual, mas sim a arte de pensar a cabeça dos outros (disse Brecht)». Este é o extenso título da nova peça da Mala Voadora, que sugere, desde logo, o programa de intenções do espectáculo.

A política é o pretexto para uma viagem pelo mundo do espectáculo e da manipulação, que traduz precisamente essa ideia de uma certa forma de arte «de pensar a cabeça dos outros». A peça teve uma primeira versão em Serralves (Porto), em Julho, no âmbito do programa Mugatxoan. No Citemor (Montemor-o-Velho), Jorge Andrade (encenador e actor) e José Capela (cenógrafo) – a estrutura humana central da Mala Voadora – estiveram uma semana em residência para repensar a peça, que agora se apresenta numa segunda versão.

Em Setembro, o espaço O Negócio, em Lisboa (da Galeria Zé dos Bois), irá apresentar uma terceira, que resultará de uma nova residência, nessa ocasião na capital.

Este é o pretexto para uma conversa com os dois, sobre o jogo dos significados que o teatro contemporâneo compõe e abandona a cada nova visitação de uma peça que já existe mas não se fixa num objecto cristalizado. Nesta primeira parte da conversa cruzamos o passado da Mala Voadora com a peça em desenvolvimento.

A ideia da peça «O decisivo na política não é o pensamento individual mas sim a arte de pensar a cabeça dos outros», disse Brecht, surgiu de onde?

Jorge Andrade [JA]: Os nossos espectáculos normalmente surgem quando encontramos material com o qual nos apetece trabalhar. A partir deles começamos a pensar que espectáculo vamos desenvolver. No caso desta peça, quando descobrimos estes materiais estávamos de férias...

José Capela [JC]: ... estávamos a fazer um espectáculo em Faro...

JA: ... estávamos a fazer um espectáculo em Faro e encontrámos, numa Feira do Livro, duas compilações de discursos políticos no século XX. Essa foi a primeira ideia que surgiu, interessou-nos trabalhar a partir desse tipo de documentos. Paralelamente, tinha descoberto um livro que tinha saído nos Estados Unidos e que julgo não saiu ainda cá, que eram as «101 Personagens Mais Influentes Que Nunca Existiram». Quando começámos a desenvolver o projecto, pensámos fazer o cruzamento destes dois tipos de materiais diferentes. Depois, numa primeira versão do espectáculo em Serralves, à medida que fomos ensaiando, pareceu-nos que o tipo de material, o do tal «101 Personagens...», faria mais sentido para outro espectáculo e não para este. Resolvemos, então, concentrar-nos nestes discursos.

O que é que isso significa em termos do que é a relação da Mala Voadora com os textos teatrais?

JC: A última vez que utilizámos um texto de teatro num sentido convencional para fazer um espectáculo foi no «Os Justos». A partir daí temos utilizado textos pontualmente, mas nunca mais partimos de um texto convencional para fazer uma peça. Tem-nos estimulado mais esta possibilidade de abordar temas que nos interessam, trabalharmos a partir de materiais muito diversos, interessa-nos também encontrar um modo de trabalhar esses materiais que seja específico para cada espectáculo. Isto significa muitas vezes constituir equipas com profissionais de áreas muito diversas, em função dessa intenção que existe, em relação aos materiais. Em consequência de tudo isso, temos de descobrir dispositivos cénicos que sirvam e solucionem bem a apresentação do espectáculo propriamente dito. A experimentação que a Mala Voadora tem feito tem andado muito em torno destas três coisas, do material, o tipo de processo que se desenvolve a partir do material e o tipo de espectáculo. Tentamos não repetir e reinventar essas componentes da criação.

JA: Ao escolhermos esses materiais, eles acabam por não ser só um exercício formal – no sentido de como tratar esses materiais – mas também é condicionado pela temática... Quando escolhemos os materiais, aquilo que nos suscita curiosidade é, precisamente, a temática que lhe está inerente, como neste caso acontece com os discursos políticos, e a forma que encontramos para colocar em cena. Certo que os materiais têm sido os mais diversos, mas a temática também influencia a maneira de trabalhar esse material e o questionar o transporte dessa temática/material para o palco.

Isso implica processos de criação diferentes, pesquisas diferentes, formatos de espectáculo diferentes, estruturas narrativas diferentes, colaboradores diferentes... É possível fazer uma cronologia das peças da Mala Voadora a partir dos materiais que inspiram a criação?

JA: «Os Justos» foi o último espectáculo que fizémos a partir de um texto de teatro mais convencional. O seguinte foi o «Philatelie», que partiu de uma colecção de selos que tinha de quando era miúdo. Aí interessava-nos trabalhar o íntimo, a partir de um material muito pessoal, que era a colecção de selos, mas ao mesmo tempo não nos interessava que fosse apenas passar esse lado para o palco. Passei a minha colecção de selos a uma colega...

JC: ... uma historiadora...

JA: ...uma historiadora, que construiu a contextualização histórica para os selos que seleccionou, juntamente com alguns que eu também escolhi. Depois demos ao Miguel Rocha, que se encarregou de escrever uma história para aqueles selos e, a partir daí, foi uma negociação entre nós e o Miguel relativamente à narrativa que fomos construindo a partir do que tínhamos escolhidos com a Ana. No «Projecto de Execução», o material partiu de uma proposta que lançámos a três amigas, que desafiámos a organizar jantares nas suas casas, e tratava-se de procurar como trataríamos esse material e o transportaríamos para palco.

JC: O processo partiu basicamente das gravações reais, nada manipuladas, das conversas destas mulheres – Anabela Almeida, Cláudia Gaiolas, e Teresa Ferreira. Elas fazem parte do mesmo ciclo de amizade e foi uma equipa que se constituiu, como o próprio tema do espectáculo, muito a partir da utilização dessa intimidade, passava muito pela amizade entre aquelas mulheres. Toda a equipa acabou por pertencer ao mesmo núcleo de amizade. A seguir...


fotografia de Susana Paiva

JA: Penso que foi o «Hard».

JC: Foi o «Hard». Foi muito feito a partir de notícias de jornal. Tinha uma base jornalística. O «Hard» tinha três partes, o I tinha como tema a violência; no II foi as catástrofes, e o três abordava estes temas mas relacionado com a questão do turismo. Nesse fizemos um grande trabalho de pesquisa para encontrar esse tipo de materiais. Novamente, neste caso passámos o resultado dessa pesquisa ao Miguel Rocha, que produziu um texto para o «Hard II» - o primeiro quase não tinha texto.

JA: Agora sou eu a falar da parte formal. Essas temáticas, aquilo que se pretendia nos dois primeiros «Hard», era procurar como podíamos tornar visível em palco o que é invisível, ou que é minímo. E, na parte da catástrofe, como podiamos tornar o grande pequeno suficiente para poder ser apresentado numa sala interior.

JC: Deixa-me só acabar. Por isso é que a segunda parte acabou por ser uma espécie de visita guiada a um museu de miniatura de maquetes de catástrofes.

JA: A seguir, fizemos o «Desempacontado a Minha Biblioteca».

JC: Não. Foi a peça infantil, o «Teatro-Postal».

JA: Ah, sim. Aí foi... Qual foi o tipo de material?... Para conseguirmos ter aquele discurso coerente...

JC: Foram postais de viagem.

JA: Foi a primeira vez que nos aconteceu haver uma encomenda de um espectáculo com um objectivo muito específico, que partiu do Serviço Educativo do Teatro do Campo Alegre. A ideia era fazermos uma peça para crianças que reflectisse sobre o próprio teatro. Ocorreu-nos a ideia de trabalhar a noção de viagem, de uma forma muito elementar inicalmente, de como a poderíamos transportar para dentro da sala de teatro. Porque não nos interessava fazer uma visita pelo teatro com as crianças, mostrar o que era o camarim, o que eram as luzes, o som... Portanto, fomos construindo a partir de postais que amigos meus mandavam quando estavam em férias, enquanto eu estaria a trabalhar, a fazer um espectáculo. A seguir foi o «Desempacotando a Minha Biblioteca», que começámos por fazer a partir da biblioteca do Miguel Rocha, em que ele escolhia excertos de livros, a partir dos podíamos contar várias histórias, nessa deambulação pela sua biblioteca.

JC: Tudo isso feito a partir de um ensaio do Walter Benjamin, que também era interpretado em palco pela Fernanda Lapa, que tratava dos livros e das bibliotecas do ponto de vista do que são os objectos, e a relação que o coleccionador tem com os objectos que colecciona. Depois, na segunda parte é que fazia uma espécie de viagem pelo conteúdo da biblioteca de alguém. Aliás, a nossa ideia inicial em relação a esse projecto era repeti-lo muitas vezes, partindo sempre da biblioteca de uma pessoa muito diferente. Isso implicava um empreendimento muito grande porque cada vez que se escolhia alguém diferente, significava um espectáculo novo. Talvez o venhamos a fazer, mas ficou adiado...

É possivel, a partir dessas experiências, encontrar traços que caracterizem o vosso trabalho? Suscita a ideia de «found objects», trabalhados num sentido mais teatral, uma dimensão de intimidade...

JA: Não consigo encontrar uma unidade, mas isso também nos agrada. Isso significa que partimos para cada espectáculo a partir dos tais materiais que encontramos, se bem que isso exista de forma transversal a grande parte dos artistas contemporâneos, mesmo do teatro ou performance. Quando referimos materiais estamos a falar de memórias, emoções, documentos, o que for... Agrada-nos não ter isso definido previamente. O material e a temática é que vão determinar o tratamento e, por consequência, o tipo de espectáculo que irá resultar desse trabalho. Isso agrada-nos. Fica-nos sempre uma sensação de vertigem, não sabemos como o espectáculo vai sair. Não existe um ‘know how’, que possa garantir uma qualidade mínima, porque existe o risco de ficarmos satisfeitos com aquilo, que eu pessoalmente raramente fico, ou de dizer, ‘grande merda, não resultou bem’. Há peças em que dá para fazer novas versões de um espectáculo, que não resultou, como é o caso deste que estamos a fazer aqui, em residência, em que trabalhamos a partir da peça que já tinha sido apresentado em Serralves. Mas agrada-nos essa inexperiência de que, em cada uma das peças, não sabemos que tipo de espectáculo vamos ter.

Mas que procura é essa que iniciam a cada novo espectáculo?

JA: Acho que é algo tão simples quanto a vontade de fazer.

JC: Não temos como objectivo criar um estilo, nem sequer nos interessa muito a questão da linguagem. Preferimos deixar que se construa na medida do que é necessário, do que propriamente tentar estabelecer uma linguagem própria para a companhia. Preferimos esse risco de nos tentarmos reinventar, mesmo admitindo que não temos uma capacidade infinita de reinvenção. Imagino que visto de fora seja mais fácil identificar algumas linhas comuns, alguns pressupostos que se possam ir repetindo. Mas agrada-nos pensar ao contrário, pelo menos ter essa ilusão. Mas estávamos no outro dia a discutir que, em relação ao âmbito temático, há uma tendência clara para tratarmos questões quotidianas. Acabamos por lidar sempre com coisas que são do território do comum, muito banais, e por mais diferenças que se possam estabelecer entre os temas que vamos abordando, acho que se enquadram entre temáticas que tendem a ser ou de ordem afectiva, em que a dimensão do quotidiano explorada é mais afectiva, e outras em que a dimensão do quotidiano que é explorada é mais política. Talvez isso possa funcionar como uma espécie de baliza em relação aos temas que temos vindo a abordar. Talvez este enquadramento permita caracterizar o trabalho no seu conjunto.

Jorge, concordas com isto?

JA: Desculpa?... Perdi-me... Mas acho que sim (risos). Concordo! Concordo! O Capela, pela formação dele, não tem uma necessidade tão grande de uma justificação para o tipo de trabalho que se desenvolve. Dito assim parece que eu, vindo... tenho de ter um discurso definido ou uma preocupação social. Com isto quero dizer que, de alguma forma, o tipo de trabalho que desenvolvo tem de ter um objectivo concreto, não é no sentido de querer transformar o público ou que a arte tenha uma função muito concreta, que dará frutos muito concretos no confronto da obra com o público. Nesse sentido, é capaz de recair nas duas vertentes. O Capela falou da parte política e da parte social. Eu, inicialmente, tinha muito essa necessidade de sustentar o trabalho nesse campo. Neste momento, agrada-me mais, não permitindo que a temática seja ultrapassada pelo lado formal, o especulativo no confronto com as duas coisas. E ver daí o que poderá resultar.

Nesse sentido, esta peça em particular é paradigmática desse confronto entre essas duas realidades, o espectáculo do teatro e da política.

JA: Ainda hoje estivemos a discutir a parte final do espectáculo. Perguntávamo-nos o que aquela última parte significa exactamente. Somos exaustivos na procura do que significa o que fazemos. Pode acontecer neste sentido: querer dizer algo e procurar a forma de o fazer. Pode ter este efeito. Ou então haver uma espécie de...

JC: ... especulação...

JA: ... de deixar as coisas correr. Pode acontecer deixarmos as coisas surgirem, de algum modo, improvisadas e de nos surpreendermos com o significado que pode ter. Estas residências para repensar espectáculos que já foram feitos, muitas vezes não passam por grandes alterações, mas antes concentrar-nos neste objecto e pensarmos a relação entre o que fazemos e o significado que pode resultar daí. Tínhamos como intenção dizer isto, ou achávamos que significava isto, e debruçamo-nos sobre que outras pistas isso poderá dar. Não estando na nossa mão o significado todo, podemos ter uma espécie de branqueamento do significado que já tínhamos como seguro e fazermos o exercício de pensar que outros significados podem suscitar. Uma vez encontrados, esses outros significados possíveis, tentamos explorá-los. Pode até acontecer interessar-nos mais esses outros que descobrimos do que aquele primeiro, que já nos satisfazia. Este é um exercício que me agrada porque, apesar de poder ser de alguma forma demasiado doloroso – que é uma palavra demasiado piegas – apesar de ser difícil desfazermo-nos de significados que já estavam adquiridos...


Falam de uma composição a partir da redefinição, composição, do desfazer de significados... que é uma forma de pensar a criação contemporânea... Mas o que significa isso de desfazer de significados?

JC: Acho que o Jorge tem muita tendência para pensar os espectáculos e as suas estruturas quase como uma espécie de filigrana de significados...

JA: Tão filigrana, tão filigrana que... que não tem leitura... Acontece ver algo que, para mim, é muito claro e as pessoas não lêem o mesmo. Questiono-me muitas vezes: mas não é evidente? Porque para mim é evidente. Ainda ontem falávamos do «Desempacotando...». Para mim era evidente que, para além de se fazer aquela viagem pelo conteúdo por diferentes livros e fazer ao contrário do que Benjamin falava – tratar a Biblioteca como objecto de uma colecção – era pegar em excertos, fazer uma viagem pelas histórias que cada livro encerrava. Para mim, era óbvio que, tentar contar uma história a partir do conteúdo desses livros significava estar constantemente a abandonar outras histórias. Talvez o que eu andasse à procura fosse a ideia de que cada um conta a história que quer com os seus livros. E havia uma tentativa de contar essas histórias de uma forma que interrompia o que estava a acontecer. Talvez fizesse parte da minha formação mais inicial, em que havia um abandono e dizia não, desta forma não me apetece contar a história, desta forma não me patece contar história... E iamos fazendo uma viagem ao longo das diferentes maneiras de contar historias...

JC: ...e respectivo abandono.

JA: E o abandono ali seria o essencial para compreender toda a estrutura do espectáculo, pelo menos desta segunda parte. Para mim era evidente que pegando no Titanic e fazendo brrlrup brrlrup brrlrup, se estava a afundar o drama burguês, não era nada evidente para quem o via.

JC: Daí ter gerado imensos equívocos. Mas estava a falar da filigrana, porque o Jorge tem muita necessidade de justificar o detalhe em função do significado que tem. Eu não tenho tendência para ser tão minucioso em relação aos significados. Acho que a ideia geral tem de estar segura. Mas também acho que precisamente a segurança que eventualmente a ideia geral garante, pode permitir que, por vezes, se tomem decisões um bocadinho menos ponderadas, e se escolha um signifcado não tão preciso.

JA: Isso é a típica opinião de quem não está lá com o corpo a fazer [risos]. Porque se vou buscar um balão tenho de ter uma intenção. Ah não! [nota: a caricaturar], o balão vai-se buscar sem nenhuma intenção. Não! Não! Tens de pensar se vais a correr, se vais devagar.

JC: Às vezes temos essa divergência, entre a minúcia, ou a não minúcia dos significados das coisas.

Claudia Galhós


3.8.10

DISCURSO DIRECTO | Na cabeça de Jorge Andrade

texto de Cláudia Galhós

fotografia de Susana Paiva

Diluem-se as fronteiras entre nós e os outros, entre o passado e o presente. «Single» começou a ser ensaiado na sala da casa de Jorge Andrade. É este o espaço que a Mala Voadora, de Jorge Andrade e José Capela, recria em cena. A sala da casa de Jorge é partilhada por um grupo de pessoas aparentemente comuns que contam uma história do passado da Etiópia, numa estranha divagação entre a narração distante de quem ouviu falar desse acontecimento e o testemunho de quem o viveu. O delírio adensa-se entre o real e o imaginário na entrada de figurinos a lembrar a exuberância das cortes francesas do século XVIII. No acumular de referências, ideias, textos, acções, objectos, móveis, entramos sorrateiramente no mundo privado de Jorge Andrade.

No final do espectáculo veio-me a possibilidade de ver esta peça como um exercício de esquizofrenia. Se é um delírio quotidiano, a materialização de um pensamento/sonho ou jogo de estratégia teatral?

Estratégia teatral não… Acho que teve mais a ver com o facto de cruzar um lugar do quotidiano, o interior de uma casa, com uma época e um local histórico aparentemente distantes. Teve mais a ver com uma espécie de culto da individualidade que, neste caso, nos chega através do Imperador Haile Selassie, da Etiópia… E até que ponto cada um de nós, cultivando a sua individualidade, dentro de um contexto social e político actual não pode ser entendido como uma excentricidade? Aliás, tal como para nós o Imperador nos chega, à distância, com uma imagem de excêntrico.
Talvez perceba a ideia de um delírio ou experimentação teatral apenas no sentido do questionar que estratégias podemos desenvolver teatralmente para lidar com essa estranheza que me interessou trabalhar, e como a transportamos para o nosso apartamento. Talvez aí possa suscitar a ideia de uma espécie de esquizofrenia… Ou talvez possa ver uma abordagem formal em termos do uso dos diferentes assuntos que fazemos. Procuramos uma espécie de apropriação dessa história e a forma como o decidimos fazer teatralmente foi de procurar até que ponto conseguimos retratar aquilo. E até que ponto se torna demasiado próximo ou não para que possamos chegar a uma espécie de desistência da tentativa de desenvolver técnicas ou estratégias de representação. Ou seja, queremos chegar a uma qualidade em que aquilo seja simplesmente só dito, não vivido, porque não se volta àquele quotidiano, nem se tenta recriar a mostragem de quotidiano no sentido mais performativo que é estar de facto a tentar recriar essa situação. Fazemos a transposição para palco da vivência daquelas pessoas, como se cada um estivesse no seu mundo isolado. Esta opção é uma forma de representação.

Pensei que estavas em sintonia com uma certa tendência actual que é: tendo um sentido e enquadramento do tempo que vivemos hoje, convoca-se um outro tempo passado, em que nem passado nem presente se transformam - por exemplo, o passado não sofre uma actualização dos seus factos, linguagens, acções - para ganhar uma expressão do presente. O que sucede é precisamente o instalar dessa estranheza e do equilíbrio precário da coabitação entre os dois tempos. Quase entram em dissonância mas encontram uma forma de coexistir em diálogo sem se fundirem ou resolverem. Não é isto sinal do instalar de uma outra estratégia, aparentando uma negação do que possamos reconhecer como estratégias de eficácia teatral?

Este ano estive a passar férias na Etiópia e foi aí que tomei conhecimento do Imperador Haile Selassie, e descobri o livro do Ryszard Kapuscinski, que acabou por resultar no material que trabalhámos para o desenvolvimento deste espectáculo. O projecto já existia há três anos. A ideia então era partir de um ensaio do Sloterdijk, «Cell Block, Egospheres, Self-Container: The Apartment as a Co-Isolated Existence», que é sobre a criação de mundos e universos hiper individualistas. Tratava da forma como as pessoas preservam ou criam esses universos individuais como recurso para terem um maior controlo sobre o seu quotidiano. Quando li o livro do Kapuscinski questionei-me até que ponto aquela excentricidade que me parecia tão distante, era realmente distante? A questão surgiu por referência dessa excentricidade relativamente à criação destes universos pessoais que cada um faz, no sentido de tentar controlar um quotidiano. O que conhecia da Etiópia era essa ideia mais generalizada, da fome nos anos 80 e 90. Depois, a leitura do livro fez-me descobrir coincidências, não só o facto de o governo Imperial ter sido derrubado em 74, mas também terem tido uma espécie de Maio de 68, só que foi em 69, com as nacionalizações das empresas… Uma série de factos históricos que fazem eco com a História de Portugal, mas também fazem eco com o que se está a viver hoje.

Até que ponto, com esta peça e pensando noutras - como «O decisivo na política…» - a Mala Voadora está a assumir, ou não, um teatro cada vez mais politicamente assumido?

Normalmente começamos com uma ideia abstracta e é, posteriormente, a concretização da ideia que torna a peça política ou não. Tenho sempre algum pudor de assumir essa posição de estar aqui de punho levantado a um metro do espectador… Mas desta vez era inevitável.

Porquê a inevitabilidade?

Por causa da época que estamos a viver, aquele livro faz eco com a nossa actualidade, caso contrário não fazia sentido. Mas tudo o que ali contamos são factos históricos etíopes. Todos. A forma como os organizamos é que obedece a uma lógica, outra, que criámos para contar a história.

fotografia de Susana Paiva

Há um momento, do golpe de Estado, em que os actores quase gritam, tentam fazer-se ouvir por cima do som da música que cada vez fica mais alto… Há intenção clara de boicotar a capacidade de audição do espectador nesse momento? Não é a primeira vez que tenho a sensação de a minha recepção enquanto espectador ser intencionalmente frustrada num espectáculo da Mala Voadora… Frustrada, dificultada ou boicotada...

A ideia primeira foi boicotar aquele primeiro atentado. O Imperador fazia muitas viagens naquela altura, como se fala mais à frente, para procurar capital estrangeiro… E aquilo que me interessava era boicotar aquele golpe contra o Imperador, que em si era a tentativa de dar cabo daquela ordem que se vivia na Etiópia. O que estamos a explorar é a ligação possível entre a música que escolhes para pôr em casa e o abafar da Revolução. Através desse abafar da narração, essa tentativa de golpe é encoberta e, depois disso, as pessoas ficam ainda com mais medo do Imperador… A música tem de ir a um volume em que os actores não se façam escutar para chegar ao ponto de eles desistirem da tentativa de dizer o que quer que seja, como reacção a ficarem frustrados pelo abafamento. Por outro lado, resulta na impossibilidade de o espectador perceber o que foi aquele atentado.
Esta opção também tem relação com o que me interessa em termos formais, da estrutura de continuidade do espectáculo e do que significa em termos dramatúrgicos. Há uma ordem individual que existe na primeira parte, que corresponde ao primeiro momento em que estou a dizer o texto. Nessa lógica, o atenta
do surge nessa perturbação como uma tentativa de destruir aquela ordem. Inicialmente, imaginei para esse momento uma remodelação do apartamento, de troca dos móveis. Mas acabei por optar por esta versão.

Dá a ideia que é uma opção quase programática, no sentido da negação de qualquer proposta que facilite ao público criar empatia e entregar-se ao espectáculo, deixando-se ir completamente. Pode também ser entendida como uma posição muito política, porque constitui uma negação da tendência mais comum da sociedade, que é simplificar, facilitar…

A partir do momento em que a narração deixa de ser minha e os actores dentro da sala tomam a palavra, não me interessava que o que ficasse, que passasse para o público, fosse apenas a parte da história da Etiópia. Essa estava lá claramente no texto. Não me interessava construir uma ilusão, interessava-me mais fazer a reflexão de como nós, enquanto indivíduos, podemos encaixar-nos naquela história. Há sempre a possibilidade de cada um de nós, em momentos diferentes, poder ser o Imperador… Não é preciso, nem me interessa, criar uma ilusão ou definir as personagens e definir quem são aquelas pessoas. Não preciso de clarificar isso para contar uma história. O facto de se retirar as personagens pode resultar em ter uma punk a dizer que é Ministro do Imperador, mas não surge como perturbação intencional. Simplesmente resulta do que nos interessava trabalhar: a sobreposição destes tempos e destas histórias; resulta quase num choque em que, nesse desencontro, aquilo tudo até pode chegar a fazer sentido. A premissa não é formal, no sentido de decidirmos a perturbação ou uma não facilitação do acesso do público à história. Interessa-nos uma relação do espectador mais abstracta que não se resume a uma partilha da narrativa.

Empatia abstracta… É voltar a apelar à capacidade de abstracção do espectador mas esperando que esta possa gerar uma empatia…?

Acho que é um reequacionar a familiariedade que cada um tem com certo tipo de coisas. É pensar se, no desenvolvimento da proposta e do trabalho que estamos a mostrar, algo continua a ter o mesmo sentido que tinha antes de se ver o que se está a ver. Ou se a forma como é dado a ver põe em causa essa noção de familiariedade…

Não senti que não houvesse personagens. Senti que os intérpretes não se fixam entre ser e não ser personagens e andam em trânsito entre três qualidades do estar em cena: a personagem da pessoa normal que executa as tarefas do quotidiano; essa voz do passado por que é atravessada por vezes; e ser neutro… Na tua presença em cena achei curioso que, quando entras no espaço do apartamento, te colocas de fora. Mesmo quando assumes alguma acção pelo caminho, já dentro da casa, colocas-te sempre à margem e quando entras no colectivo, entras de passagem pela narrativa. Ficas a olhar… Nesse desfasamento histórico entre este estar em casa, quotidiano, vulgar, e este grande e revolucionário acontecimento do passado de um país - e entre aquela proximidade familiar e temporal e a distância física, geográfica e temporal da outra história - parece resultar no esvaziamento do valor de todas as formas de as pessoas se darem a conhecer pelas suas acções. No fim, quando vais tomar banho, é como se pusesses tudo o que ali se passou em causa, sublinhasses ainda mais a estranheza e a dificuldade de crer que existem… E por entre aquelas criaturas estranhas, esses fantasmas que habitam aquele espaço, parece que a única criatura real à qual nos podemos apegar do princípio ao fim, está em ti…

Aquilo está tudo muito coreografado. Temos de nos coordenar muito bem. O espectáculo faz um percurso em que começa por cada um estar no seu mundo e conforme acontece a perturbação, existe um regresso ao livro de Ryszard Kapuscinski e à representação desse mundo distante para tentar compreender o que é isto e o que é isto de tentar fazer de conta uma coisa que não somos nós e nos é distante. Esse é o momento em que a Anabela [Almeida] diz que toda a gente tinha medo, fala dos despedimentos, mas é sempre sobre a Etiópia. Depois, existe a reunião das pessoas todas da corte em que estamos todos juntos para tentar solucionar este problema. A partir daí instala-se uma certa desistência do tentar solucionar o problema e caminha-se para uma apatia em que as pessoas compõem um quadro colectivo mas para dizer que centenas de milhares de pessoas estão a morrer de fome ao lado de celeiros. O meu papel aí tem uma função um pouco oposta. No início, apresento aquela história num tom um pouco distante. Quando já estou no espaço da casa, ausento-me durante a Revolução e o abafamento do que é a revolta. Quando eles estão a tentar a ver o que se passou, o que é esta história da Etiópia, com temas que podiam ser de hoje, quando falam das greves, ainda participo duas vezes dentro desse colectivo. Depois, cada vez mais vou desenhando um percurso individual enquanto eles vão cada vez mais desenhando uma massa. Isto pode significar uma transferência daquela personalidade sobre a qual temos estado a falar, do Imperador, para aquela minha personalidade ali dentro enquanto indivíduo, mas pode não ser. E podemos olhar para eles e ver o plano do quotidiano. Quem é cada uma daquela pessoa? Quem somos nós?… Novamente, há uma escolha de composição das dinâmicas de grupo e individuais. Existe um plano de quadro de conjunto, grupo, e existe o indivíduo. Em termos de organização, cada um está por si. Cria-se um colectivo e eles estabilizam no colectivo. Eu passei por eles e saliento o indivíduo no fim. Tudo caminha para um adensar daquele quotidiano na sua forma estridente e perturbadora, dentro de um passado que nos é muito distante, em que até vamos buscar os figurinos do séc. XVIII francês, da corte de Maria Antonieta.
Depois do primeiro atentado, o Imperador mata os animais porque deixaram entrar os rebeldes. Já estamos no plano da loucura, porque os animais estavam presos. É o desespero de matar uma coisa que ele tinha domesticada, mas que o faz como reacção a não ter controlo sobre aquilo que esperava ter. Depois, no fim, diz a Flávia [Gusmão], enquanto no gabinete do Imperador se discute in
interruptamente sobre o futuro da Etiópia, na jaula ao lado os leões rugem, reclamando a sua próxima ração de carne. Isto pode ter vários sentidos sobre o que é esse rugir e reclamar a ração de carne.

Podes partilhar uma das possíveis leituras?

Acho que pode ser lido como chegaram outros e a sede de poder permanece. Por outro lado, pode estar relacionado com o precisarmos de uma animalidade para criar uma ruptura com uma suposta paz que se vive, para romper com este quadro que compomos. Precisamos de um instinto animal ou algo que não sabemos o que é, pode ser a besta, pela agressividade, uma instalação de violência. Isso poderá estar implícito na força latente daqueles animais, que estão domesticados mas são vitimas do sacrifício por alguma razão que não se compreende exactamente qual é.

Essas foram as questões que ocuparam o processo de criação no início?

Estivemos um mês e uma semana no trabalho de mesa, a discutir. Discutimos o que nos interessava do livro do Ryszard Kapuscinski e o que representava aquele ensaio do Peter Sloterdijk. Pensámos como se cruzavam aqueles universos e como na prática podíamos dar corpo a esse cruzamento. E como estes materiais diferentes se organizam e se materializa um texto que não foi escrito para a cena, que é um romance. Isso agradava-me porque há uns esboços de diálogos que se fez na adaptação do texto que podia ser mais eficaz, mas queria esse confronto.

Desta vez o ponto de partida não foi um objecto encontrado, como aconteceu habitualmente nas vossas peças. Ou acabou por ser quando descobriram o livro?

Desta vez foi um tema, de facto, que vinha da peça anterior. Depois surgiu a casa, que pode ser o Palácio do livro. No início tínhamos a ideia do universo individual Sloterdijk, mas depois não me agradou. Tínhamos previsto na equipa duas sociólogas e os objectos com que iríamos trabalhar haviam de ser entrevistas a pessoas que viviam sozinhas. Não nos interessava particularmente a solidão ou a inevitabilidade da solidão. Interessava-nos mais as pessoas que optavam por viver sozinhas e o material que isso poderia gerar. Mas depois pareceu um pouco esquizofrénico. Acabei por perder o interesse de explorar só por esse caminho a ideia de singularidade.


fotografia de Susana Paiva

Os tempos que estamos a viver - esta depressão, este desemprego, esta crise, que acaba por ser crise de valores e de identidade - impôs-se de algum modo na alteração do impulso teatral para criar?

Acho que contribuiu para a empatia com o livro. E também influencia formalmente parte do espectáculo. Durante muito tempo acreditou-se que tínhamos garantido um bem-estar, em que já não nos temos de preocupar em ter uma camisa mas sim com a cor da camisa. E nessa base vai-se criando a individualidade e a personalidade. De algum modo, acho que nos deixámos iludir e criou uma espécie de bem-estar um pouco autista, de não atenção e não percepção de uma outra realidade, ou da realidade dos outros que é diferente, que está por baixo, que ainda não consegue ou não pode escolher a cor da camisa. Sinto que só quando te tiram a camisa que escolheste, para te dar uma camisa que tem uma cor neutra é que começas a perceber que há outra realidade e a questionar os que não têm camisa. Esse raciocínio está, de algum modo, presente na parte formal do espectáculo, nesse ponto de partida em que começa por existir o indivíduo e só quando se instala a crise é que as pessoas se juntam para tentar resolver. Ainda assim, só estão a tentar resolver problemas imediatos, para garantir os seus direitos individuais, e não valores mais universais e gerais…

De acordo com essa metáfora, o primeiro gesto de alguém que deixa de poder escolher a cor da camisa é aperceber-se dos problemas dos que estão piores? Parece-me uma visão muito optimista…

As pessoas juntam-se para reivindicar direitos, como aconteceu relativamente ao Ministério da Cultura e a anunciada cativação de 10% dos apoios às estruturas de criação, o que resultou na criação da Plataforma do Teatro. Antes disso, cada um estava preocupado em garantir a sua parte, com a ameaça do corte as pessoas decidiram juntar-se. E esta reflexão surgiu repetidamente nas reuniões, uma defesa de algo mais do que apenas essa mobilização pontual, mas que realmente possa haver uma discussão mais abrangente e de fundo sobre o que andamos a fazer. Isto também está no espectáculo mas não é o tema. Mas de facto esta peça tem uma componente muito política.

Estas questões fizeram-te reequacionar o pensamento do porquê estares na arte e o papel que esta desempenha?

Penso nisso em todos os espectáculos… Não me interessa só o exercício formal de criar um mundo ou expressar um mundo interno ou criativo, ‘o mundo do artista’, para que não se fique apenas pela materialização da minha visão do mundo, mas avançar para alguma proposta, mesmo que não declaradamente. É algo que tenho necessidade de trabalhar enquanto artista, neste momento. Que não seja só um delírio estético, ou que fique apenas como exposição de um reequacionamento das coisas, uma renúncia ou denúncia, mas que contenha em si, mesmo que de forma não evidente, uma proposta. Considerar viável construir uma possibilidade futura. Acho que a empatia com o espectador pode ser criada mais nessa especulação. Ir mais para um terreno abstracto mas que pode ser de partilha. Mesmo existindo a convivência de muitos códigos distintos, independentemente do teu domínio desses códigos, esperamos que seja possível identificar com alguns e que possa haver uma partilha num terreno para além dessa leitura mais imediata da denúncia, porque o texto já tem muito disso.

Esta peça é mais politicamente assumida e, pareceu-me, também mais pessoal, parece que estás mais lá…

Não sou muito dado a falar sobre essas coisas, mas é inevitável não estar ali. Aquela casa é em grande parte a reprodução da minha casa. Aquela mesa, aquelas cadeiras, aquelas estantes são da nossa sala… O fogão é lá de casa. Existe quase reprodução da nossa casa, afinal estamos a reflectir sobre a construção do mundo individual. Ao mesmo tempo, tenho uma vida privilegiada e, nesse sentido, que legitimidade tenho de estar a fazer uma denúncia? Mas também pode funcionar como uma reflexão para me reequacionar, enquanto pessoa, neste contexto. Não acho que deva dar o meu dinheiro aos pobres e irmos todos para a rua… Não me parece que a solução seja essa…

Então, estamos de algum modo em sintonia quando a leitura que faço é de que tu, em cena, me surges como o referente humano daquela peça…?

Há uma certa inevitabilidade de isso acontecer a partir do momento em que apareço enquanto narrador a contar aquela história, no lado de fora da casa. E é certo que, quando entro, há um relacionamento dentro daquele quotidiano que não é idêntico ao deles, mesmo que ainda faça alguma tentativa de participar naquele grupo, mas eles não vêem, não se apercebem. Eu vejo-os porque os convoquei para a minha casa, mas eles não me vêem...

Mas mesmo que não identifiquemos esses elementos pessoais, é possível sentir uma atmosfera pessoal, relativamente a ti…

Mas depois há outro lado, habitualmente não gosto de me expor dessa maneira e gosto de parecer frio, então estava a pensar para mim: isto ficou assim porque estivemos a ensaiar em casa… É a forma mais analítica de lidar com o significado de tudo isto. Como estivemos a ensaiar na sala da minha casa, foi assim que ficou. Discutimos muito a posição daquele sofá. Para muitos actores não era confortável estar virado de lado, relativamente ao público, não estar virado para nada… Também discutimos sobre a mesa vermelha, que parece a criação de um novo mundo… Em todas essas discussões, a minha resposta era: «em minha casa está assim, portanto se é possível na minha casa, também é possível aqui…» No entanto, não gosto muito que se reforce isso no espectáculo. Não é preciso. O facto de eu ser o encenador daquilo e entrar lá dentro, também pode suscitar um sentido maniqueísta. Talvez até do controlo de um quotidiano. Ou da criação de um quotidiano em que surge novamente essa ideia de as pessoas que vivem sozinhas numa tentativa de poder controlar tudo. Em que uma pessoa cria o seu universo pessoal e tem a impressão de um maior controlo sobre as coisas. Na verdade não controla... Nesta peça, quando estou a viver o meu quotidiano na minha casa, estou a tentar controlar aqueles indivíduos que por acaso estão na minha casa.

Esta dimensão não estava nas outras peças. Ou escapou-me nas outras peças?

Pela natureza dos próprios espectáculos, ou por terem por base colecções, esse lado surge de outro modo…

Ficas mais protegido…

Fico mais protegido nas outras porque, apesar de serem também coisas do meu quotidiano, são materializáveis. Ou seja, bastam-se na construção do material. Aqui o quotidiano vem com um tempo de hoje, a recriação de um espaço pessoal, e eu estou lá…

Isso incomoda-te? Essa parte pessoal estar lá?

Não. Não gosto é de falar dela.